Leandro Prior falou com o G1 após vídeo não autorizado viralizar na internet. ‘95% das ameaças são de PMs’, diz policial militar que, abalado, se afastou da corporação para tratamento médico.
Há quase quatro
anos, Leandro Prior conta que teve de responder a um questionário para entrar
na Polícia Militar (PM) de São Paulo que perguntava sua opinião a respeito do
“homossexualismo”. Disse ter respondido que “não achava nada” até porque também
é “homossexual”.
Aprovado, trabalha desde então no 13º Batalhão da PM, na capital
paulista. Ele atua na Força Tática por meio do Programa Vizinhança Solidária na
Cracolândia, área da região central de São Paulo conhecida pelo tráfico e
consumo de drogas ao ar livre.
Nesse período, Prior se lembra de ter sido vítima de preconceito por
conta de sua orientação sexual uma única vez diretamente e, nas outras, de
forma velada.
“Houve um caso onde apontaram o dedo. Foi dito
que ‘com ele eu não trabalho’. Foi direto, curto e grosso. E a pessoa disse:
‘você sabe por que’. [...] Os outros casos são velados, mas esse foi o único
caso mais direto antes desse caso do vídeo”, conta ao G1 o PM.
“O caso do vídeo” a que se refere o soldado é o que foi feito por
celular sem sua autorização. As imagens mostram o policial fardado beijando na
boca outro homem, em trajes civis, no Metrô de São Paulo. Nada anormal para uma
capital que todo ano tem uma das maiores paradas gays do mundo e desenvolve
campanhas contra a discriminação por gênero e orientação sexual.
Mas quem filmou Prior dando um “selinho” em seu amigo não entendeu
assim. Naquela ocasião, o policial havia deixado o trabalho, mas aparecia
fardado dentro de um vagão da Linha 3-Vermelha do Metrô, o que chamou a atenção
do desconhecido que gravou a cena.
Segundo Prior, até a corporação informa que não há regulamento que
proíba manifestações de afeto fora do ambiente profissional. “Acredito que não
seja proibido pelo artigo 104 da I-24 PM, onde ela permite atos de afeto fora
da administração, área de administração militar”, diz o soldado de 27 anos.
O G1 entrou em
contato com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para comentar o assunto. A
pasta divulgou nota abaixo, na qual informa que foram oferecidas medidas
protetivas para a segurança de Prior, além de a Polícia Civil e PM estarem
apurando quem são os policiais responsáveis pelas mensagens homofóbicas contra
ele. Segundo a Segurança, sobre as questões formuladas na entrevista de
admissão do policial na corporação, elas "não objetivam identificar a
orientação sexual do candidato".
A cada compartilhamento nas redes sociais, Prior recebia um xingamento,
uma ofensa e até ameaças de morte acompanhando o vídeo.
"Aqui não aceitamos um policial fardado em pleno Metrô beijando um
homem na boca. Desgraçado, desonra para minha corporação. Esse tinha que morrer
na pedrada! Canalha safado! Se alguém não gostar desse comentário, f* você
também!", é uma mensagem postada na página do Facebook de um policial militar das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
(Rota), tropa de elite da PM.
Declarações como essa levaram Prior a acionar a Polícia Civil e a
Polícia Militar para tomarem providências criminais e administrativas contra
policiais que o estão ameaçando. Os casos são acompanhados pelo advogado de
Prior, José Beraldo, membro do Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana
(Condepe), Ariel de Castro, e o ouvidor da Polícia, Benedito Domingos Mariano.
"Eu tenho diversos prints, e 90% a 95%
das pessoas que fazem comentário de ódio em todas as redes sociais contra a
minha pessoa e a minha vida são vindas de policiais militares”, informa Prior.
Mesmo figurando como vítima de homofobia, o soldado terá de responder a
um procedimento administrativo também na corporação. Segundo a PM, a atitude de
Prior no Metrô não obedeceu a regras de segurança exigidas pela corporação. Ele
teria deixado o coldre da arma aberto. Sua arma foi recolhida.
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