quarta-feira, 22 de março de 2017

Operação Carne Fraca: perguntas e respostas sobre a operação da PF nos frigoríficos.


Tem papelão na carne? Estão vendendo produtos vencidos? Há risco para a população? Veja o que se sabe e o que ainda não foi explicado.


A megaoperação da Polícia Federal, na última sexta-feira (17), desmontou um esquema de funcionários do Ministério da Agricultura que teriam recebido propina para liberar carne para venda sem passar pela devida fiscalização. A operação aconteceu em 6 estados e no DF, com 35 pessoas presas – e há ainda dois investigados foragidos. O Ministério da Agricultura afastou 33 servidores envolvidos no esquema.
A possibilidade de que produtos adulterados e até vencidos podem ter ido parar na mesa da população deixou o país em alerta, mas muita coisa ainda não foi explicada pelos investigadores da operação Carne Fraca.
Veja o que já se sabe e o que ainda não foi esclarecido na operação:
O que a operação Carne Fraca descobriu?
Um esquema que envolvia funcionários do Ministério da Agricultura em Goiás, Minas Gerais e Paraná que receberiam propina para liberar carne para comercialização sem a fiscalização adequada. O esquema também envolvia funcionários de alguns frigoríficos. Segundo o delegado Maurício Moscardi Grillo, da PF, as irregularidades encontradas nos frigoríficos vão desde uso de produtos químicos para mascarar carne vencida a excesso de água para aumentar o peso dos produtos.
Quais marcas cometeram irregularidades? Alguma está proibida?
A PF fez busca e apreensão em 21 frigoríficos, mas ainda não especificou em quais deles foram flagradas irregularidades na produção. Também não há recomendação oficial para que alguma marca específica seja evitada.
Foi encontrado papelão na carne?
Uma das gravações feitas pela PF durante a operação foi apresentada como indício de que haveria papelão em produtos da BRF, empresa dona de marcas como Sadia e Perdigão. Na ligação entre funcionários da empresa, um deles diz: "O problema é colocar papelão lá dentro do cms também né. Tem mais essa ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora, se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar".
Em nota, a empresa afirmou que a interpretação da gravação é um "claro e gravíssimo erro" e que o funcionário se referiu às embalagens do produto, e não ao seu conteúdo, como disse a PF.
Estão vendendo carne vencida?
A PF afirmou, ao anunciar a operação, que os frigoríficos estariam usando produtos químicos, entre eles o ácido ascórbico, para maquiar o aspecto de carnes vencidas que era comercializada. O Ministério da Agricultura afirmou que o uso do ácido ascórbico não é proibido por lei, desde que esteja dentro das normas estabelecidas.
Foi usada cabeça de porco em produtos?
Em uma das gravações divulgadas pela PF, o dono de uma das empresas investigadas, Idair Antônio Piccin, conversa ao telefone com a mulher, Nair Klein Piccin, sobre o uso de cabeça de porco em lotes de linguiça. Segundo a PF, a prática seria ilegal. O médico veterinário Pedro Eduardo de Felício, especialista em carnes da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, afirmou ao Jornal Hoje que a carne de cabeça é permitida no mundo. "É matéria-prima. Quando você industrializa, faz embutidos, é para aproveitamento em matérias-primas de menor custo", diz.
Foi encontrada carne com a bactéria Salmonella?
Segundo as investigações da PF, uma fábrica da BRF em Mineiros (GO) estaria contaminada com a bactéria salmonella e ainda assim teria exportado carne para a Europa. A empresa afirma no texto que “a BRF não incorreu em nenhuma irregularidade”, já que “o tipo de Salmonella encontrado em alguns lotes desses quatro contêineres [de carne exportada] é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura”.
A carne brasileira foi barrada no exterior?
Nesta segunda-feira (17), diante da repercussão da operação, União Europeia, China e Coreia do Sul anunciaram restrições temporárias à entrada de carne brasileira – esses países foram o destino de 27% da carne exportada pelo Brasil em 2016. O Chile também suspendeu tenporariamente a exportação de carne brasileira. No fim da tarde, o ministro da Agricultura, Blario Maggi, afirmou que proibiu, preventivamente, a exportação de carnes produzidas pelos 21 frigoríficos investigados na operação Carne Fraca. A comercialização dentro do Brasil foi mantida.
Há risco para o consumidor?
Ainda não houve nenhuma recomendação oficial para a suspensão do consumo de carne, nem a PF nem o Ministério da Agricultura afirmaram que há risco para os consumidores.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) criticaram nesta segunda-feira (20) a maneira como a PF divulgou os resultados da operação Carne Fraca. "Passou uma imagem generalizada de que tudo no Brasil é ruim, e não é isso", afirmou Francisco Turra, da ABPA.
Ao comentar a operação nesta segunda, o presidente Temer defendeu o setor, disse que os frigoríficos investigados representam um "pequeno núcleo" e que o país tem um sistema "rigorossísimo" de avaliação sanitária.


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