segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Haddad, o professor que não conseguiu conter o antipetismo.

Ex-prefeito de São Paulo tentou se aproximar de eleitores distantes da esquerda, mas rejeição a seu partido falou mais alto.


        Desde que ficou evidente que Fernando Haddad (São Paulo, 1963) seria o plano B do Partido dos Trabalhadores para as eleições presidenciais, os dirigentes da legenda traçaram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a estratégia para viabilizá-lo como candidato.

       Professor universitário, paulistano de classe média alta, distante do círculo de poder dentro do PT e sem envolvimento nos escândalos de corrupção que atingiram o partido nos últimos anos.  Confirmada a impugnação do maior líder da sigla, Haddad vestiria, ao longo do primeiro turno, a roupa de militante aguerrido e mergulharia na região que nas últimas eleições garantiu as sucessivas vitórias tanto de Lula quanto de Dilma Rousseff, o Nordeste.

        Aproximar-se da imagem de Lula, seu  padrinho político, era neste momento o ticket para o segundo turno. A ideia era fazer com que Haddad literalmente vestisse a máscara de Lula, numa simbiose que só seria desfeita na etapa final da disputa presidencial. Depois de completado o plano com sucesso, começaria a segunda parte: Haddad se distanciaria do seu padrinho político, mostraria sua versão de centro, e investiria no seu perfil moderado, tentando assim atrair eleitores que, embora divorciados do petismo, não aceitavam a retórica antidemocrática e explosiva de Jair Bolsonaro. Uma estratégia que passava por reforçar-se como  "professor Haddad".

       derrota para o capitão reformado do Exército neste domingo mostrou que o esquema desenhado por Lula falhou. Haddad chegou ao segundo turno, mas, uma vez nele, passou a maior parte do tempo sem conseguir fazer frente à onda Bolsonaro que varreu o País. Foi apenas nos últimos dias que obteve apoios importantes e as pesquisas identificaram que ele estava diminuindo a distância para seu adversário, mas a reação começou tarde demais.

Parece que o combustível que o catapultou do anonimato entre a maior parte do eleitorado para os 29% dos votos válidos que obteve no primeiro turno se transformou no seu maior obstáculo para tentar virar o jogo contra Bolsonaro. Afinal, Lula e o PT podem contar com amplo apoio em setores da sociedade brasileira, mas despertam ódio e repulsa em tantos outros. Sua rejeição era alta demais.

 A própria tentativa de Haddad de dar mais a sua cara à campanha no segundo turno não decolou. O petista não conseguiu formar um arco de alianças que fosse muito além dos tradicionais aliados do PT. Bolsonaro, por sua vez, centrou toda a sua artilharia na campanha no antipetismo, argumentando que Haddad não passava de mais um "poste" lançado por Lula, condenado por corrupção e preso há mais de seis meses em Curitiba. Funcionou. Não foi a primeira derrota de Haddad nas urnas. Há dois anos, o ex-prefeito de São Paulo tentou ser reeleito para o comando da capital, mas foi derrotado por João Doria (PSDB) ainda no primeiro turno.
 
Fernando Haddad fala após a derrota.  (REUTERS).

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