Ex-prefeito de São Paulo tentou se aproximar de eleitores
distantes da esquerda, mas rejeição a seu partido falou mais alto.
Desde que ficou evidente que Fernando Haddad (São
Paulo, 1963) seria o plano B do Partido dos Trabalhadores para
as eleições presidenciais, os dirigentes da legenda traçaram com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a estratégia
para viabilizá-lo como candidato.
Professor universitário, paulistano de
classe média alta, distante do círculo de poder dentro do PT e sem envolvimento
nos escândalos de corrupção que atingiram o partido nos últimos anos. Confirmada a impugnação do maior líder da
sigla, Haddad vestiria, ao longo do primeiro turno, a roupa de militante
aguerrido e mergulharia na região que nas últimas eleições garantiu as
sucessivas vitórias tanto de Lula quanto de Dilma Rousseff, o Nordeste.
Aproximar-se da imagem de Lula,
seu padrinho político, era neste momento o ticket para o
segundo turno. A ideia era fazer com que Haddad literalmente vestisse a máscara
de Lula, numa simbiose que só seria desfeita na etapa final da disputa
presidencial. Depois de completado o plano com sucesso, começaria a segunda
parte: Haddad se distanciaria do seu padrinho político, mostraria sua versão de
centro, e investiria no seu perfil moderado, tentando assim atrair eleitores
que, embora divorciados do petismo, não aceitavam a retórica antidemocrática e
explosiva de Jair Bolsonaro. Uma estratégia que passava
por reforçar-se como "professor Haddad".
A derrota para o capitão reformado do Exército neste
domingo mostrou que o esquema desenhado por Lula falhou. Haddad chegou ao
segundo turno, mas, uma vez nele, passou a maior parte do tempo sem conseguir
fazer frente à onda Bolsonaro que varreu o País. Foi apenas nos últimos dias
que obteve apoios importantes e as pesquisas identificaram que ele estava
diminuindo a distância para seu adversário, mas a reação começou tarde demais.
Parece
que o combustível que o catapultou do anonimato entre a maior parte do
eleitorado para os 29% dos votos válidos que obteve no primeiro turno se
transformou no seu maior obstáculo para tentar virar o jogo contra Bolsonaro.
Afinal, Lula e o PT podem contar com amplo apoio em setores da sociedade
brasileira, mas despertam ódio e repulsa em tantos outros. Sua rejeição era
alta demais.
A própria tentativa de
Haddad de dar mais a sua cara à campanha no segundo turno não decolou. O
petista não conseguiu formar um arco de alianças que fosse muito além dos
tradicionais aliados do PT. Bolsonaro, por sua vez, centrou toda a sua
artilharia na campanha no antipetismo, argumentando que Haddad não passava de
mais um "poste" lançado por Lula, condenado por corrupção e preso há
mais de seis meses em Curitiba. Funcionou. Não foi a primeira derrota de
Haddad nas urnas. Há dois anos, o ex-prefeito de São Paulo tentou ser reeleito
para o comando da capital, mas foi derrotado por João Doria (PSDB) ainda no primeiro turno.
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