O Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para
amanhã (14) a conclusão do julgamento da ação protocolada pelo PPS para
criminalizar a homofobia, caracterizada pelo preconceito contra o público LGBT
(lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis). A sessão será retomada
às 14h, para a tomada de votos dos ministros.
A possibilidade de criminalização da homofobia é debatida na
ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) nº 26, sob a relatoria
do ministro Celso de Mello, e tramita no STF desde 2013.
Os ministros devem definir se o Supremo pode criar regras
temporárias para punir agressores do público LGBT, devido à falta de aprovação
da matéria no Congresso Nacional. Pelo atual ordenamento jurídico, a
tipificação de crimes cabe ao Poder Legislativo, responsável pela criação das
leis. O crime de homofobia não está tipificado na legislação penal brasileira.
No entendimento do PPS, a minoria LGBT deve ser incluída no
conceito de "raça social" e os agressores punidos na forma do crime
de racismo, cuja conduta é inafiançável e imprescritível. A pena varia entre um
a cinco anos de reclusão, conforme a conduta.
A sessão de hoje (13) foi dedicada somente às
sustentações orais das partes contrária e a favor do tema. O primeiro advogado
a sustentar foi Paulo Roberto Iotti Vechiatti, representante do PPS. Segundo o
advogado, existe uma omissão do Congresso brasileiro em criminalizar os casos
de agressões contra homossexuais.
Para o representante do partido, a Constituição exige a
criminalização de todas as formas de racismo ou de discriminação atentatória a
direitos e liberdades fundamentais. "Creio que seja inconteste que a
homofobia e a transfobia se enquadram nos direitos à livre orientação sexual e
livre identidade de gênero", disse.
Em seguida, o advogado-geral da União (AGU), André Mendonça,
reprovou qualquer tipo de conduta ilícita contra a liberdade de orientação
sexual, mas entendeu que o Judiciário não tem poderes legais para legislar
sobre matéria penal, somente o Congresso.
No entendimento de Mendonça, os atos considerados como homofobia
podem ser enquadrados em outras condutas criminais já previstas no Código
Penal. Essa foi a primeira sustentação do ministro no STF após sua nomeação.
"Todo e qualquer cidadão, indistintamente, merece a devida proteção na
forma da lei", afirmou André Mendonça.
O advogado Tiago Gomes Viana, representante do Grupo Gay da Bahia,
disse que a criminalização da homofobia pelo STF é necessária porque todos os
projetos favoráveis à comunidade LGBT que começam a tramitar no Congresso são
barrados por parlamentares ligados à bancada evangélica.
"Fala-se muito em ativismo judicial, mas pouco, ou quase
nada, fala-se sobre a inoperância do Poder Legislativo de cumprir as ordens
constitucionais, especialmente quando elas falam em minoria LGBT",
argumentou.
Representante da Associação Nacional de Juristas Evangélicos
(Anajure), o advogado Luigi Mateus Braga defendeu que o Congresso tenha a
palavra final sobre o caso. Braga disse que a comunidade LGBT deve ter seus
direitos protegidos, mas é preciso assegurar que religiosos não sejam punidos
por pregaram os textos bíblicos.
"Ninguém está sustentando abuso, ninguém está sustentando que
uma religião tenha o direito de menosprezar individualmente qualquer
homossexual ou qualquer transexual. No entanto, o que nós não queremos é correr
o risco de ser punidos por um fato social, representado por textos
bíblicos", afirmou.
Durante as manifestações, o vice-procurador da República, Luciano
Mariz Maia, entendeu que a homofobia é um processo de desumanização do outro e
pode ser enquadrada como uma forma de racismo.
"Esse tribunal nunca se acovardou, nem se acovarda agora.
Esse tribunal tem a grandeza de olhar os pequenos. Esse tribunal tem a coragem
e ousadia de afirmar que há direito a vida de todos e todos merecem igual proteção
da lei", disse o procurador.
Redação AdC
ada-cerqueira@hotmail.com
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